quarta-feira, 10 de abril de 2013

FILHOS DE GAYS SE SAEM MELHOR DO QUE OS OUTROS, ENQUANTO SOCIEDADE AMERICANA DE PEDIATRIA APÓIA CASAMENTO GAY

Nas últimas semanas duas notícias abalaram os paradigmas do tema criação e adoção de crianças por casais homoafetivos. Enquanto estudo publicado na revista Super Interessante comprova não somente a viabilidade como a superioridade da qualidade de vida dos filhos de casais de gays e lésbicas, o Jornal Nacional veiculou contundente declaração de apóio da principal associação de pediatras dos Estados Unidos ao casamento gay que, afirma, não vê qualquer prejuízo às crianças criadas sob um casamento homoafetivo.
 Na íntegra ambas as matérias:
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Chega de preconceito. Adolescentes criados por mães lésbicas vão melhor na escola, têm mais amigos e se sentem bem consigo mesmos. Precisa de mais?
por Nanette Gartrell*

 Nos últimos 30 anos, diversos estudos têm demonstrado que a orientação sexual dos pais não influencia o ajustamento psicológico e social das crianças. Mas alguns críticos ainda questionam a legitimidade da criação de filhos em lares gays, lembrando que a maioria dos adolescentes estudados nasceu em uniões heterossexuais antes que a mãe se divorciasse e se assumisse como lésbica. Minha pesquisa vai além: eu acompanho a primeira geração americana de famílias lésbicas planejadas, nas quais as mães já se identificavam assim antes da inseminação artificial. Portanto, estudo seus filhos desde que nasceram. E constatei que, aos 17 anos, eles se saíram ainda melhor, em alguns aspectos, que outros adolescentes da mesma idade.
 Os filhos das lésbicas tiveram melhor desempenho na escola e nas interações sociais, por exemplo, do que garotos de famílias heterossexuais. Também apresentaram menos problemas de comportamento, como agressividade e violação de regras. Os dados vêm do Estudo Nacional Longitudinal de Famílias Lésbicas dos EUA (NLLFS, na sigla em inglês), que iniciei com uma colega há 26 anos. No total, 154 lésbicas (solteiras e com companheiras) se inscreveram entre 1986 e 1992. Desde então, temos reunido dados por meio de entrevistas e questionários. E os resultados surpreendem.
 Para medir a qualidade de vida, pedimos aos 78 adolescentes filhos de lésbicas que completassem uma pesquisa com frases como "Eu me dou bem com meus pais" ou "me sinto bem comigo mesmo", que deviam ser avaliadas de 0 (discordo) a 10 (concordo totalmente). Comparamos as respostas com as de 78 adolescentes pareados por sexo, idade e etnia. E não encontramos diferenças entre os dois grupos, como era esperado. A surpresa veio quando pedimos que nos descrevessem duas vidas em detalhe. Vimos que os filhos das lésbicas eram muito bons na escola, tinham diversos amigos de longa data e fortes laços familiares. Numa escala de 0 a 10, eles deram 8,4 em média para seu bem-estar - o que não é comum entre adolescentes. E 93,4% consideram que suas mães são bons modelos a seguir, excepcional para a faixa etária.
 Esse desempenho não é por acaso. As mães de nosso estudo se comprometeram em participar ativamente da vida dos filhos. Precisaram educar todo mundo à sua volta sobre famílias lésbicas - do obstetra às professoras. também participaram de programas anti-bullying nas escolas. Elas dedicaram muito tempo para tornar o caminho dos filhos o mais seguro e saudável possível. Quase metade as crianças do estudo havia sido alvo de comentários homofóbicos, mas souberam lidar com isso.
 Apesar de todas essas evidências, ainda existe o mito de que gays e lésbicas não podem ser bons pais, tal como dizem os juízes americanos nos anos 70, ao negar a custódia dos filhos a homossexuais divorciados. Quando as primeiras pesquisas indicaram que os filhos de gays e lésbicas estavam se dando bem, os juízes argumentavam que não havia estudos longitudinais confirmando isso. Claro: como estudos assim demandam muitos anos, os magistrados podiam continuar dizendo não aos gays. Em 1982, um banco de espera abriu as portas pela primeira vez a lésbicas que queriam engravidar. Na época eu era uma pesquisadora da Escola de Medicina de Harvard, e vi que um novo fenômeno social estava surgindo. Por isso iniciei o NLLFS - o mais longo estudo já feito. Com ele, os juízes já não podem levar adiante seu preconceito.

 * Nanette Gartrell é psiquiatra e investigadora principal do Estudo Nacional Longitudinal de Famílias Lésbicas dos EUA (NLLFS, na sigla em ingllês), em São Francisco. Em depoimento a Eduardo Szklarz.
 Matéria publicada originalmente na revista Super Interessante, Edição 315, Fevereiro de 2013. Página 21.

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Casamento gay não traz prejuízo à criança, afirmam pediatras dos EUA

 O casamento entre pessoas do mesmo sexo recebeu o apoio da principal associação de pediatras dos Estados Unidos. Os médicos não veem prejuízo nenhum para a formação de crianças que tenham dois pais ou duas mães.
 Um pai. Dois pais. Famílias assim já não são tão incomuns nos Estados Unidos. Como Zelia, quase dois milhões de crianças americanas são criadas por pais ou mães homossexuais. Timm e Kevin se casaram há um ano e meio e comemoram o apoio da mais importante associação de pediatria do país ao casamento gay. “Toda vez que uma instituição formal se manifesta ajuda todo mundo a aceitar e a entender que somos como as outras pessoas", diz Timm.
 Citando várias pesquisas, a Academia Americana de Pediatria afirmou: o bem-estar das crianças depende muito mais do relacionamento com os pais e do apoio que recebem do que da orientação sexual deles. O melhor para essas crianças é que a união dos pais seja reconhecida pelas instituições.
 Conversamos com Michael Cohen, especialista em psicologia infantil. "Se os pais são carinhosos e criam um ambiente de apoio e segurança, a criança terá um desenvolvimento saudável", afirma.
 Nem todo mundo concorda. O presidente de outra instituição, o Colégio Americano de Pediatras, rebate. “Está claro que ambientes homoafetivos aumentam o risco de as crianças ficarem confusas com relação à orientação sexual", diz Den Trumbull.
 Apesar da reação negativa de parte dos colegas, a Academia Americana de Pediatria marcou posição em um momento importante. Na semana que vem, a Suprema Corte dos EUA vai analisar a legalidade do casamento gay. Nesta quinta, o estado do Colorado aprovou a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Agora, já são 18 estados americanos que permitem algum tipo de união entre homossexuais.

Veiculado no Jornal Nacional, edição do dia 22/03/2013. Matéria acessada no sítio http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2013/03/casamento-gay-nao-traz-prejuizo-crianca-afirmam-pediatras-dos-eua.html em 10 de abril de 2013, às 14:30 horas. 

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