Publicado originalmente no Portal A TARDE, em 03/08/2013.
Crianças acima de 5 anos, negras e com algum tipo de doença têm mais dificuldade de conseguir pais dispostos a adotá-las. Dos 5.387 crianças e adolescentes cadastrados no Conselho Nacional de Adoção (CNA), 1.196 possuem problemas de saúde. Destes, 139 têm Aids.
"Dificilmente a gente encontra casais dispostos a adotar uma criança com HIV. O preconceito é muito grande", afirma a assistente social da Casa de Apoio e Assistência aos Portadores de HIV (Caasah), Claudete Ramos.
Dos 18 crianças e adolescentes que vivem na Caasah atualmente, sete estão disponíveis para adoção. "Eles sonham com isso. Muitas vezes, ultrapassam a maioridade e não são adotados", diz.
Conceição Macedo, fundadora da Instituição Beneficente que leva o seu nome (IBCM), afirma que muitas crianças passam anos dependendo dos abrigos e instituições que prestam assistência aos portadores de HIV. "A realidade vivida por essas pessoas se torna ainda mais difícil pela situação de pobreza em que vivem", diz.
No total, a Bahia tem 136 crianças e adolescentes disponíveis para adoção, mas o desembargador do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), Salomão Resedá, evita falar sobre quantos possuem Aids. "Creio que esse tipo de informação os estigmatiza ainda mais".
Motivação - Resedá reconhece que esses casos são mais difíceis, mas acredita que o casal disposto a adotar não cria barreiras.
"Só quem sabe o que é não ter um filho é quem não pode ter um. E quem não pode, normalmente, não estabelece critérios. É movido por um sentimento muito maior que é o amor incondicional".
Foi esse sentimento que mobilizou o casal de advogados curitibano Alberto Rau, de 55 anos, e sua esposa, Aristéia, de 48. Desde 2010, eles lutam para adotar quatro meninas com HIV que têm entre 4 e 13 anos e estão acolhidas em uma instituição da capital.
Pais de Lucas, de 20, e André, de 14, filhos biológicos, diante da "burocracia" para adotar as meninas, o casal formalizou em 2012 a adoção de Mateus, de 15, e Daniele, de 12. Ambos não têm Aids.
"Criamos o Movimento Nacional das Crianças Inadotáveis (Monaci) como uma forma de denunciar o descaso do poder Judiciário e estamos mobilizando outras pessoas", diz Alberto.
De acordo com o casal paranaense, a demora na destituição do poder familiar - que conforme a lei deveria ocorrer em 120 dias - é um dos principais entraves.
"A Justiça supõe que essas crianças não vão ser adotadas e não se preocupa em dar andamento a seus processos de destituição familiar".
A reportagem de A TARDE tentou falar com a juíza Maria Lúcia Espíndola, responsável pelo processo do casal paranaense, mas foi informada, por sua secretária, que a magistrada não dá entrevista "porque o processo corre em segredo de Justiça".
por Fabiana Mascarenhas
Gostaria de entrar em contato com a Fabiana Mascarenhas isto é possível? Como vcs conseguiram os dados do CNA.
ResponderExcluirAguardo resposta.