NATÁLIA CANCIAN
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
"Disseram que estaríamos velhos demais para cuidar de uma
criança." É assim que S., 50, descreve a justificativa que ele e a mulher,
M., 49, receberam quando tentaram, há três anos, entrar no cadastro de
pretendentes à adoção.
Considerado "velho"
na época, o casal, que não quer se identificar, recorreu e conseguiu na Justiça
o direito de entrar na fila para esperar a futura filha --ele e M. querem uma
menina de até dois anos.
A decisão foi tomada pela
Justiça de SC este mês. Antes, o pedido havia sido negado pelo juiz da comarca
local e pelo Ministério Público, apesar da decisão favorável nos testes
aplicados por psicólogos e assistentes sociais. A única justificativa: a idade
do casal.
Para a Promotoria, havia uma
"diferença considerável" entre o casal e a criança pretendida.
"Assim, quando esta atingir a adolescência, aqueles já estariam na
terceira idade", disse o parecer.
S., que também é filho adotivo, rebate. "Nunca me passou pela
cabeça que fosse tarde demais. Para mim, a idade não muda nada. Eu trabalho,
tenho saúde", afirma.
O casal teve três filhos, mas
eles morreram devido a uma doença genética. M. conta que tinha pensado em
adotar antes, mas adiou os planos para se dedicar aos filhos até o fim.
Ela diz que a negativa os
surpreendeu. "Pensei que poderia adotar com qualquer idade", conta M.
"Graças a Deus, agora foi aprovado. Vou esperar o tempo que for."
PAIS DEPOIS DOS 40
Para Mery-Ann Furtado e Silva,
secretária-executiva da Comissão Estadual Judiciária da Adoção de SC, o caso de
S. e M. foi "atípico". Ela lembra que, hoje, a lei estabelece
diferença mínima de 16 anos entre pretendente e adotado, mas não há limite
máximo.
O casal catarinense tem o
perfil da maioria dos interessados em adotar. Segundo o Conselho Nacional de
Justiça, que reúne dados sobre adoção no país, seis em cada dez pretendentes à
adoção têm acima de 40 anos.
Hoje, há 28.151 interessados em
adotar, número cinco vezes maior que o de crianças disponíveis (5.281).
A preferência dos pais em
relação à idade das crianças é considerado o maior entrave no processo. Ao
todo, 93% dos interessados, como S. e M., querem crianças com menos de cinco
anos. Mas só 9% das crianças têm essa idade.
"Esse é o descompasso da
fila. [A maioria] das crianças que está nos abrigos ninguém quer", diz o
juiz Reinaldo Cintra, da coordenadoria de infância do TJ-SP.
Para Cintra, mais do que a
vontade dos pretendentes, é preciso verificar se o pedido vai atender às
necessidades da criança a ser adotada.
"O que existe é uma
preocupação de que a adoção seja o mais próximo possível de uma situação
natural. Se uma pessoa de idade elevada quer uma criança pequena, corre-se o
risco de ter uma orfandade muito cedo", pondera.
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