Pesquisas recentes que temos conduzidos revelam as mais inusitadas adoções sob o ponto de
vista do senso-comum. Se há pessoas que adotaram crianças e adolescentes que
passaram muitos anos em abrigos, que
viveram em mais de sete abrigos diferentes, que tem graves problemas de saúde,
como HIV, paralisia cerebral, síndrome autista, anencefalia, síndrome de down,
entre outros, existem pessoas para adotar todas as crianças. No entanto é preciso fazer o que se denomina
de “busca ativa”. É preciso meios para promover encontros entre os abrigos e os
possíveis adotantes. Essas crianças e adolescentes não querem ficar escondidos,
guardados como em uma prisão, sofrendo por algo que não tem culpa. E imaginar
que todos os adotantes estão apenas esperando para ir e escolher “a melhor”
criança não é verdadeiro, o que é
revelado por tantas adoções de crianças
que, supostamente, “ninguém quer”. É preciso capacitar melhor os
adotantes, com cursos reais e verdadeiros sobre parentalidade e família, uma
vez que temos conhecimento de elevado número de devoluções recentes (cerca de
15%), famílias que ficam um ou dois anos com uma criança/adolescente e depois
simplesmente devolvem. Algo está muito errado nesse processo de habilitação e
preparação de adotantes.
A outra grande questão a ser feita
é, por que o restante da sociedade, a elite nacional e internacional, os
supostos eleitos para transformar o mundo, estão andando a passos de tartaruga
em vez de tentar reverter urgentemente esse quadro de abandono, desamparo,
miséria, solidão e ausência de amor?
Onde está a nossa consciência? A consciência dos “incluídos” em relação
ao outro, ao nosso semelhante que é tão diferente, pois não projeta a imagem
especular da nossa própria identidade e nem confirma o nosso desejo? O ser
humano possui apenas o projeto de uma consciência e o seu desenvolvimento
depende de uma história intersubjetiva. É preciso encarar de fato este outro, o
“excluído”, mesmo quando ele afirma a
todo momento que não somos aquilo que desejamos, mas o que escolhemos fazer de
nossa existência. Vamos escolher fazer da nossa existência um olhar e um fazer
mais profundo em direção ao outro? Se não for agora, quando? Se não formos nós,
quem o fará? “Deus nos dê sabedoria para
descobrir o certo, vontade para escolhê-lo e força para fazê-lo durar” (Rei
Arthur, no filme Lancelot).
Dra. Lidia Weber é Psicóloga (CRP 08/0774), Mestre e Doutora em
Psicologia (USP); Pós-doutora em Desenvolvimento Familiar (UnB); professora e
pesquisadora da Universidade Federal do Paraná. Autora de centenas de artigos e
capítulos de livros e de 12 livros, entre eles, “Pais e filhos por adoção no
Brasil” e “Adote com Carinho” (Juruá).
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