segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Como mudar a aplicação do utilitarismo nos abrigos do Brasil?


O texto da Dra. Lídia Weber tem o condão de trazer uma visão profunda sobre os descaminhos do abrigamento, pois esta fala como especialista na área da psicologia.  
O abrigamento não poderia institucionalizar a segregação de crianças e jovens do seio da sociedade. Infelizmente esta prática é a aplicação da pior forma do utilitarismo de Jeremy Bentham que propagou a ideia da máxima felicidade e hegemonia do prazer sobre a dor. Esse pensamento não leva em conta uma escala de valores éticos, muito menos o respeito ao princípio da dignidade humana.
Para explicar a filosofia utilitarista mencionada, cito Michael J. Sandel, que analisa o tratamento que deveria ser dado aos pobres, segundo Bentham:
"O plano, que procurava reduzir a presença de mendigos nas ruas, oferece uma clara ilustração da lógica utilitarista. Bentham percebeu, primeiramente, que o fato de haver mendigos nas ruas reduz a felicidade dos transeuntes de duas maneiras. Para os mais sensíveis, a visão de um mendigo produz um sentimento de dor; para os mais insensíveis, causa repugnância. De uma forma ou de outra, encontrar mendigos reduz a felicidade do público em geral. Assim, Bentham propôs a remoção dos mendigos das ruas, confinando-os em abrigos.
Alguns podem considerar isso injusto com os mendigos, mas Bentham não negligencia sua "utilidade" (felicidade). Ele reconhece que alguns mendigos seriam mais felizes mendigando do que trabalhando em um abrigo, mas observa também que para cada mendigo feliz mendigando existem muitos infelizes. E conclui que a soma do sofrimento do público em geral é maior do que a infelicidade que os mendigos levados para o abrigo possam sentir" ("Justiça: O que é fazer a coisa certa", pág. 50).
Essa lógica destrutiva impera nas Varas da Infância do nosso país, resultado do egoísmo, do utilitarismo e falta de ética. A lógica aplicada em solo pátrio, contra os jovens e crianças abrigados, é a de que confinados no abrigamento estas crianças deixam de representar uma mazela social aos olhos vistos da opinião pública e do cidadão, mesmo que aos custos da supressão dos mais elementares direitos e da mutilação das mais basilares necessidades de convívio social do jovem. Sustenta-se, com isso, a aparência de relativa estabilidade e progresso de um sistema de institucionalização que lhes garantiria algum futuro, tal qual poder-se-ia inferir dos abrigos de Bentham em relação aos mendigos, quando, de fato, não são senão depósitos cujo único objetivo é esvaziar a culpa moral daqueles que, doutra forma, deveriam zelar antes de tudo pela inocorrência de lesão aos direitos básicos dos indivíduos que representam o "problema".
É incrível que a preocupação com o meio ambiente, sempre justa, inclua um cuidado importante com os animais, a exemplo das baleias confinadas no Sea World, cuja situação gerou um debate público nos Estados Unidos sobre os malefícios da vida segregada do habitat natural dos cetáceos, a exemplo do depoimento de uma especialista no seguinte sentido: "...no cativeiro elas podem desenvolver estresse. Presas, elas costumam ter comportamentos neuróticos..." (Revista Istoé, p.75, nº 2337).
Oportuno o pensamento do humanista e espírita DIVALDO PEREIRA FRANCO para reflexão:
"Os esforços de ternura para educar e reeducar crianças são mais edificantes do que aqueles que amealham moedas, mesmo que sejam de ouro.
Quem se oferece para auxiliar um ser infantil, investe no porvir.
O sentido da vida é educar, porque fora da educação não há como sobreviver-se na multidão.
Por isso, é necessário que o discernimento e a emoção humana direcionem-se para os pequeninos que avançam no rumo da posteridade...
Realiza hoje em favor da infância, o que gostarás de receber...A Lei Divina estatui que o bem que se faz a outrem é o bem que a si mesmo faz" ("Compromisso de Amor", p. 37/39).

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