segunda-feira, 28 de março de 2011

Aids e a Infância

A epidemia da síndrome da imunodeficiência adquirida (aids) foi primeiramente reconhecida nos Estados Unidos em 1981, embora tenham ocorrido os primeiros casos de forma esporádica nos Estados Unidos e Europa desde meados da década de 1970. Mais de três décadas após o reconhecimento da aids, o padrão epidemiológico mundial da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) alterou-se drasticamente.  A despeito da infecção pelo HIV ter permanecido, inicialmente, localizada nos países da América do Norte, Europa e regiões da África sub-saariana, atualmente ela está amplamente disseminada em todo o mundo, com importantes focos epidêmicos nos cinco continentes. Além disso, sabe-se que casos pediátricos ocorreram quase tão cedo quanto os casos em adultos. Em 2003, as infecções pediátricas pelo HIV foram responsáveis por, pelo menos, 6% do total das infecções, 14% dos casos novos e 17% de mortes em 1 ano, em todo o mundo.




A principal forma de aquisição da aids na infância é a transmissão vertical, que é a transmissão da mãe infectada para o filho. A maioria dos casos de transmissão materno-fetal ocorre no parto ou um pouco antes dele (50%); 25% ocorrem no período pré-natal e outros 25% no período pós natal, pela amamentação. Desta forma, a amamentação é contra-indicada às mães portadoras de HIV em países onde as fórmulas para lactentes são facilmente disponíveis, como é o caso do Brasil. Outros casos menos comuns (menor que 7% do total) ocorreram por transfusão de hemocomponentes contaminados, abuso sexual ou estupro.

Muitos países do mundo conseguiram reduzir as estatísticas da transmissão materno fetal do HIV através do oferecimento da testagem para HIV durante o pré natal, e início de profilaxia com medicações chamadas “antirretrovirais” , utilizadas para o tratamento do HIV. Nos Estados Unidos, a taxa de transmissão diminuiu de 25% para 8% depois da incorporação, em 1995, de um regime contendo zidovudina (AZT) para as gestantes soropositivas durante o pré natal, intra parto e ao recém nascido após o nascimento. Atualmente, a taxa de transmissão nos Estados Unidos é inferior a 1%.
As estimativas do número de crianças vivendo com HIV/aids nos países africanos são assustadoras. A transmissão vertical é especialmente problemática na África subsaariana, onde a epidemia apresenta três padrões. Primeiro, nos países afetados mais cedo pelo HIV, o grau de soropositividade em clínicas pré-natais se estabilizou: inacreditáveis 40% em Botswana, 18% em Moçambique e 25% na África do Sul. Um segundo padrão é representado por Uganda, o único país Africano subsaariano que apresenta um claro declínio na soroprevalência, muito provavelmente devido aos intensos esforços na prevenção da transmissão materno-fetal. Finalmente, alguns países exibem um nível relativamente baixo de soroprevalência, como o Senegal, devido ao fato de estes países terem iniciado as medidas de profilaxia quando a soroprevalência na nação era baixa.
Segundo o último Boletim Epidemiológico Aids/DST 2010, no Brasil, desde 1996 até junho de 2009, foram identificados 10.739 casos de aids em menores de cinco anos de idade, o que representa 2% do total de casos identificados no país. Em 2008, a taxa de incidência de aids em menores de cinco anos foi de 3,8/100.000 habitantes. 
O Brasil conseguiu reduzir a incidência de casos de AIDS em menores de cinco anos de idade, no período de 1999 a 2009, em 44,4%, graças a eficácia da política de redução da transmissão vertical do HIV, com testagem durante o pré-natal, fornecimento de medicamentos durante a gestação e no trabalho de parto, realização de cesárea para as gestantes com carga viral elevada ou desconhecida e fornecimento de fórmulas lácteas ao recém nascido gratuitamente, pois a lactação é inibida devido ao risco de transmissão. Quando todas as medidas preventivas são adotadas, a chance da transmissão vertical cai para menos de 1%. O declínio da incidência em menores de cinco anos foi de 5,4 casos por 100.000 habitantes em 2000, para 3,8 casos em 2008. Porém esta redução não foi homogênea no país como um todo. As regiões sudeste, sul e centro-oeste apresentaram decréscimo no período de 1998 a 2008. No entanto, as regiões norte e nordeste apresentaram crescimento da incidência.
Um dado preocupante que pode representar uma ameaça, no futuro, à redução das taxas de transmissão vertical, é o aumento dos casos de aids em mulheres. Hoje, ainda há mais casos da doença entre os homens do que entre as mulheres, mas essa diferença vem diminuindo ao longo dos anos. Esse aumento proporcional do número de casos de aids entre as mulheres pode ser observado pela razão de sexos. Em 1998, a razão de sexos era de cerca de 6 casos de AIDS no sexo masculino para cada 1 caso no sexo feminino. Em 2009, chegou a 1,6 casos em homens para cada 1 em mulheres. Além disso, chama atenção a análise da razão de sexos em jovens de 13 a 19 anos. Essa é a única faixa etária em que o número de casos de aids é maior entre as mulheres, representado pela proporção de 8 casos em meninos para 10 casos em meninas.
Como parte da estratégia para reduzir novos casos entre os jovens, a Campanha do Dia Mundial de Luta contra a Aids de 2010 foi voltada para meninos e meninas de 15 a 24 anos. Com o slogan “A aids não tem preconceito. Você também não deve ter”, a idéia é despertar o jovem para a proximidade da doença com o mundo dele, pois muitos acreditam que uma pessoa com boa aparência está livre de doenças sexualmente transmissíveis, o que é um mito.

Fabiana Siroma, CRM-SP 122.495 - Formação: Medicina pela Universidade Federal do Paraná; Residência de clínica médica pelo Hospital de Clinicas da Universidade Federal do Paraná; Residência de  Infectologia pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas
Local de trabalho: Instituto de Infectologia Emílio Ribas e SAE  (Serviço de Atendimento Especializado) DST/Aids Butantã - Sao Paulo/SP. 

Um comentário:

  1. EU,ALUNA DO COLÉGIO ESTADUAL PRIETO MARTINEZ,ESTOU INDIGNADA COM A JUSTIÇA,QUE IMPEDE CRIANÇAS DE TEREM UMA FAMILÍA E SEREM AMADAS,POR UM CASAL QUE TANTO ÁS QUEREM,PARA DAR AMOR E CARINHO.NA MINHA OPINIÃO,SE FOI COMPROVADO Á CONDIÇÃO DO CASAL PARA CRIAR AS CRIANÇAS,NADA DEVIA IMPEDIR A ADOÇÃO.MAS IMFELIZMENTE A NOSSA POLÍTICA É FALHA ALÉM DE CORRUPTA.

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