Nesta semana especial de comemoração do Dia das Mães, nosso amigo e distinto colaborador, Dr. Elias Mattar Assad, lançou em sua página no Facebook uma pergunta bastante peculiar: "como se sentem as crianças abrigadas, no dia das mães?"
Esta pergunta, com claras intenções de provocar a reflexão de seu interlocutor, toca no âmago da questão do abrigamento: o abandono afetivo.
Não para menos, nossa distinta representante Aristéia Moraes Rau lançou uma resposta de como, ao seu ver, se sente uma criança abrigada. Abaixo o diálogo:
Aristéia Moraes Rau: "Solidão, abandono, vazio existencial, falta de perspectivas
de um futuro, emocional quanto material. Mas tudo isso não é percebido
claramente pela criança/jovem inadotável. Ela tem muitas dificuldades em
expressar seus sentimentos recalcados e desconsiderados por aqueles que
deveriam velar pela rápida situação de seu abandono (Estado, Ministério Público
e uma grande parte da sociedade que desconhece a situação dos abrigos no
Brasil. As dificuldades enfrentadas pelos pretendentes à adoção, o esquecimento
dos processos nas Varas da Infância). Os males do abrigamento são abordados
pela Dra. Lidia Weber com a propriedade de sua autoridade (já postados no
www.monaci.com.br). Retardo de desenvolvimento físico e psicológico, raiva,
revolta, atitudes violentas e, a mais corriqueira, silêncio... No dia das mães
as crianças abrigadas podem reviver a dor do abandono, da ausência daquele
olhar afetivo que só uma mãe pode oferecer. Sem desconsiderar os homens, que
muitas vezes são mães, uma criança pode viver sem um pai, mas crescerá com
todas as dificuldades sem uma mãe. Já ouvi de todas as crianças que pude ter
contato num abrigo: ME ADOTA! A experiência da nossa querida Maria Rita
Teixeira (mãe de muitos corações) foi a mesma ao longo dos vinte anos da
extinta APAV (Associação Paranaense Alegria de Viver). Os jovens que foram
colocados em sociedade sem família são categóricos: é muito triste não ter
família! Nossa luta, caro Dr. Elias, é impedir que o sofrimento moral das
crianças abrigadas se eternize no abandono do Estado. TODA CRIANÇA ABRIGADA
DESEJA UMA MÃE. Todo JOVEM abrigado SONHOU EM TER UMA MÃE. Nesse dia das mães
sou feliz por estar com meus quatro filhos, mas vou lembrar com saudades das
filhas que o Estado me negou. Vou sofrer ainda mais pela ausência da Julia, que
ainda não está conosco (novo processo de adoção em andamento). O amor de mãe é
a expressão sublime da frase do Pequeno Príncipe: “Todas as mães se tornam
responsáveis por aquilo que cativam”. FELIZ DIA DAS MÃES a todas as mães,
especialmente para todas as mães do coração, as mães corajosas de cada criança
e jovem inadotáveis (porque o Estado não as coloca na fila de adoção)."
Neste e em todos os Dias das Mães, além de agradecer pela companhia destes seres iluminados que nos trazem ao mundo e nos amam como nenhum outro, pensemos igualmente naqueles que não foram agraciados com o privilégio do convívio materno, nem tão pouco nos esqueçamos da basilar importância de provê-los, sempre que possível, com a importantíssima presença das mães do coração em suas vidas.
Que os sentimentos do Dia das Mães façam florescer na consciência de nossos julgadores a importância e a prioridade que deve ser dada aos processos adotivos, ao desabrigamento célere e a destinação familiar das crianças abrigadas.
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