terça-feira, 31 de maio de 2011

AHIV/AIDS PRECONCEITO E OUTROS FATORES RELEVANTES

Quando recebi o convite para escrever algo sobre preconceito para ser publicado neste blog, pensei se eu seria a melhor pessoa para falar sobre isso... mas logo resgatei da memória inúmeras situações de preconceitos vivenciadas na unidade de saúde onde trabalho há 13 anos, especilizada no atendimento  de  pessoas que convivem com HIV/AIDS.
As pessoas chegam espontaneamente ou encaminhadas de outros serviços de saúde, com a esperança de que o resultado da sorologia seja diferente do que todos temem: contaminação pelo HIV. Em geral ficam deprimidas, assustadas, desanimadas e sem projetos de vida. Colocam o HIV a frente de tudo. Nesse momento podemos perceber a relação de cada um com a questão da AIDS. Sentem-se excluídos, temem a revelação do diagnóstico para a família, amigos e pessoas do ambiente de trabalho. 
Não é raro se preocuparem mais com o preconceito vindo das outras pessoas do que com própria doença em si. Além da atenção clínica, nosso trabalho visa ajudar o portador do HIV lidar com a nova realidade, dando-lhe informações necessárias a rotina de tratamento, suporte psicológico e ferramentas para rever seus conceitos e enfrentar seus próprios preconceitos.
Como a própria definição da palavra, preconceito é a atitude, postura ou pensamento frente a algo que não conhecemos. Ato de ignorar aquilo que se coloca para nós como desconhecido... o que pensar, como agir, como sentir? Estamos tratando de um sentimento natural e previsível do ser humano. Muitas vezes agimos com certa desconfiança e medo quando nos deparamos com algo que temos uma imagem ainda mal formada, temos uma "pintura" iniciada por alguém e que acabamos tomando como verdade. Isto é, não elaboramos a informação, naturalmente a assimilamos sem questionamento prévio. É como se fosse sempre assim, pronto, discutido e sedimentado. Erramos e somos injustos quase que inconscientemente e pouco percebemos isso. 
Até que, em alguma situação, a vida nos dá oportunidade e materal para lidar com o desconhecido, criando condições e possibilidade de transformação dessa "pintura" e de avaliar e refazer o conceito inicial. As pessoas se surpreendem, se envolvem e até levantam bandeiras em defesa de alguma causa outrora banalizada...
Mas há uma outra forma de preconceito que me incomoda mais. É quando materializamos e cristalizamos os tais pré-conceitos, impedindo avançar rumo ao conceito, ao pensamento crítico e construtivo. Por trás, há uma intensão quase que inconsciente do poder e do autoritarismo. 
Há uma fatia da sociedade que insiste em manter-se ilusoriamente no poder, seja político, financeiro, religioso ou social. E, pensando aqui com os meus botões, imagino que essa fatia usa os pré-conceitos para segregar pessoas, culturas, idéias ...
Tenho em minha prática profissional várias experiências que retratam bem o primerio e o segundo tipo de preconceito que descrevo aqui. Gosto mais de pensar no primeiro, aquele que se refere ao desconhecimento, a falta de oportunidade e de contato para saber lidar com o desconhecido... Acreditar que esta fatia da sociedade seja bem maior do que a outra. 
No trabalho com pacientes de AIDS tive a sorte  de conhecer pessoas que têm a coragem de rever os seus conceitos, que conseguem absorver idéias diferentes das suas próprias... Histórias tristes, interessantes e difíceis, mas possíveis. Pessoas que refazem suas  vidas, seus planos, projetos e relações. 
E isso também acontece comigo. Revejo meus conceitos e me deparo com os meus preconceitos frequentemente. Exerço trabalho de atenção ao portador do HIV e recebo, como troca, a possibilidade de ampliar meu universo dia após dia...

Christine Grote Martino
Terapeuta Ocupacional  do SAE DST/AIDS Butantã - São Paulo - SP

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